08 December 2010

self-disclosure

quando estamos no meio da tempestade o raciocínio é uma coisa praticamente impossível. o mais engraçado é que no meio da tempestade pensamos mesmo que a tempestade é tudo à nossa volta, quando na verdade a tempestade somos nós, e esta, hein? ah pois.. tão colada a nós sendo nós que é tão difícil de sacudi-la, rebuild, re-do, difícil, difícil, difícil... o pensamento torna-se círcular e não conhece novas sinapses e as que existem dão curto-circuito a toda a hora... o sentir é sófrego, quase impossível o verbo respirar, quase impossível conjugar verbos que vão além do sofrer, sobreviver, doer. é o fim da linha. sentimo-nos em recessão em abstinência.. cadê a felicidade, a alegria, aquela droga que nos corre nas veias e nos põe felizes? no meio de tudo estamos nus na ponta do desespero, não há búzios que nos salvem nem ventos do norte, é uma luta de um para um, batalha justa dos eus, dos caminhos, dos desafios.. o que vai ser do futuro? existirá futuro? é impossível existir futuro pensamos todos os dias no contexto da dor que não vai e que massacra. pensamos em desaparecer das mais diversas formas a mais romântica era alguém nos bater com uma varinha de condão e transformarmo-nos em sapos, somos sapos, o que é um sapo? porquê um sapo? dá-nos a ideia que um dia se transformará novamente em gente. afinal há esperança. afinal sempre houve esperança apesar de toda a aspereza das horas, apesar de tudo é uma luta que nos obriga a ir até ao lado de lá do impossível, a ira apodera-se de nós, nós em constante pecado, alucinados, flagelados, perdidos, e agora que já não podemos dizer "mãe tenho medo, tenho muito medo de não me conseguir superar" e ouvir do outro lado "vai correr tudo bem, eu estou aqui no matter what" mesmo que depois não corra, mesmo que caia da bicicleta enquanto me aventuro a tirar as mãos do guiador mas aquelas palavras seriam o chão e dali não passaria se elas tivessem existido. muitas conversas, com os amigos, sempre presentes, alguns surpresos, outros compreensivos, outros a deixarem-me crescer, atentos, outros a darem-me a esperança que parece que não tinha, eu que sempre lhes disse o que se foi passando comigo, do mau ao bom, eis-me de novo, é isto que sou, isto que estou, isto, concreto, transparente, sincero. não sei quando se deu a viragem da página, não sei quando fechei o capítulo e senti o ar entrar vida dentro, mas nada foi abrupto. já nada é abrupto, já nada é para amanhã nem para ontem, tudo é para hoje e tudo é apreciado convenientemente, sem pressas, afinal temos tanto tempo. tento. tento arduamente. essa é a minha lição. hoje tento ser feliz, hoje sou feliz, porque passei além dos meus limites. e talvez tenha que voltar a passar além dos meus limites actuais (desta vez porém sei o que me espera), a vida é essa constante luta, na minha opinião, em busca da maravilha, que pode ser reconhecer e tratar bem os amigos que nos querem bem, sentir o amor e fazê-lo amadurecer like fine red wine, a foto da Juliane Moore na publicidade da Bulgaris ou ouvir o don't wait too long cantado pela Madeleine Peyroux (andava com tantas saudades de ouvir esta música):

http://www.youtube.com/watch?v=V6-wrEhPpeg

A vida é uma violência. Esta porém é a violência à qual não podemos dizer que não.

04 December 2010

em discurso directo

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...

Assim disse um dia Vinicius de Moraes, o poeta.

O poema é muito bonito mas hoje removia o último verso.
Existe ainda em mim uma certa melancolia
Porque também é importante ter as marcas do passado
Um sinal que a vida não nos passa ao lado,
Do que fomos, do caminho que percorremos
Hoje sinto-me feliz por nada em particular,
Está a nevar, está frio, estou longe de casa
Mas estou feliz por estar a crescer,
Por não perder a capacidade de sentir
a saudade que tenho dos meus amigos,
o amor que te guardo e que amadurece,
a beleza dos sons, das músicas que nos preenchem,
do mundo tão vasto,
do simples facto de respirarmos
e sou feliz.