18 June 2009

Primavera.. ainda

Escrevo-te com o fogo e a água.
Escrevo-te no sossego feliz das folhas e das sombras.
Escrevo-te quando o saber é sabor, quando tudo é surpresa.
Vejo o rosto escuro da terra em confins indolentes.
Estou perto e estou longe num planeta imenso e verde.
O que procuro é um coração pequeno, um animal perfeito e suave.
Um fruto repousado,uma forma que não nasceu, um torso ensanguentado,
uma pergunta que não ouvi no inanimado, um arabesco talvez de mágica leveza.
Quem ignora o sulco entre a sombra e a espuma?
Apaga-se um planeta, acende-se uma árvore.
As colinas inclinam-se na embriaguez dos barcos.
O vento abriu-me os olhos, vi a folhagem do céu,
o grande sopro imóvel da primavera efémera.
António Ramos Rosa

13 June 2009

O impronunciável é o horizonte do que é dito.
Quem escreve quer morrer,
quer renascer num ébrio barco de calma confiança.

Quem escreve quer dormir em ombros matinais e
na boca das coisas ser lágrima animal ou o sorriso da árvore.
Quem escreve quer ser terra sobre terra,
solidão adorada, resplandecente,
odor de morte e o rumor do sol, a sede da serpente,
o sopro sobre o muro, as pedras sem caminho,
o negro meio-dia sobre os olhos.