22 February 2008

De Fernando Pessoa para Walt Whitman

Sou dos teus, tu bem sabes.
E compreendo-te e amo-te.
E embora te não conhecesse,
nascido pelo ano em que morrias,
sei que me amaste também,
que me conheceste,
e estou contente.

17 February 2008

Os pés andam mal,
as caras são enormes,
os gritos habitam o nocturno do mundo
onde a morte abre fissuras nas paredes
e a casa começa a arder,
as sombras crescem no jardim, verdes,
por cima do meu cabelo
e os joelhos tremem

16 February 2008

O mistério das coisas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?

Porque o único sentido oculto das coisas
É elas não terem sentido oculto nenhum.
É mais estranho do que todas as estranhezas
Que as coisas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.

Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos:
– As coisas não têm significação: têm existência.
As coisas são o único sentido oculto das coisas.