22 November 2009

Guerra Junqueiro

Há sempre algo de profundamente inspirador em unir a música à poesia. Sentindo-me um pouco parte desses dois mundos, foi muito gratificante puder musicar Guerra Junqueiro. A sua poesia – realista, revolucionária, caricatural, intensa – é o marco do clima de renovação que se vivia em Portugal na segunda metade do séc. XIX. Guerra Junqueiro participou nesta mudança histórica, ajudando a criar o clima necessário à implementação da República. É talvez isso que apaixona ao lê-lo: Um pleno assumir da época histórica em que viveu, um entusiasmo pela vida e dedicação pelas grandes transformações. O seu poema “Evolução” traduz claramente esse combate pela acção e pela liberdade (ou não fosse um militante), difundido entre versos profundos, povoados de palavras intensas (pecado, carne, morte, luz, desejo) que se renovam continuamente (“Morreu a dor, para nascer o Amor!). Com toda esta intensidade e entusiasmo pela vida, não poderiam faltar referências ao Amor: “Toda a alegria vem do amor, e todo o amor inclui sofrimento”, “Quando a alma, ao termo de mil hesitações e desenganos, cravou as raízes para sempre num ideal de amor e de verdade, podem calcá-la e torturá-la, podem-na ferir e ensanguentar, que quanto mais a calcam, mais ela penetra no seio ardente que deseja”. Guerra Junqueiro transmite-nos no último verso deste magnifico poema uma afirmação brutalmente realista e metafísica “E só o amor na vida sepulcral é infinito e é imortal”.

http://guerrajunqueiro.wordpress.com/

(para quem não ouviu ainda)

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