Para atravessar contigo o deserto do mundo Para enfrentarmos juntos o terror da morte Para ver a verdade para perder o medo Ao lado dos teus passos caminhei
Por ti deixei meu reino meu segredo Minha rápida noite meu silêncio Minha pérola redonda e seu oriente Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso Cá fora à luz sem véu do dia duro Sem os espelhos vi que estava nua E ao descampado se chamava tempo Por isso com teus gestos me vestiste E aprendi a viver em pleno vento
basta um beijo, o calor de um abraço, um sorriso inesperado, para que o cinzento do dia desapareça como gelo em água quente. basta a proximidade do teu corpo, a voz de um amigo, a empatia de um desconhecido. saber que a noite termina com o primeiro bocejo do sol. saber que nem todos os sonhos são maus, que há palavras que curam. basta-me o ruído da respiração, o toque de outra pessoa, o aconchego de um leito. enquanto se desespera uma alma, o sol nasce noutra latitude. e se houver pântano que nos atrase, há litoral mais ou menos perto que nos acalme a finitude. bata o coração mais uma vez e acredito que se aguente mais um pouco. a sombra apenas é visível porque existe sol ou luz de arte humana. e até a lua nos baralha o medo do escuro, reflectindo a antecipação do dia. esperar é ver o horizonte. ou sabê-lo de cor. ou ainda desenhá-lo com o dedo em vidro sujo."